Morre Milton Balbino, um dos idealizadores da festa de Iemanjá em Caraguatatuba

Morreu nesta segunda-feira, dia 7, em São José dos Campos, Milton Balbino dos Santos, um dos idealizadores da Festa de Iemanjá, que acontece há mais de 60 anos em Caraguatatuba. Seu Milton tinha 11 filhos e 67 netos.

Seu Milton, como ele era conhecido, morreu aos 80 anos de idade, em decorrência de uma parada cardíaca, segundo seus familiares, por volta das 18 horas desta segunda-feira e deve ser sepultado amanhã, terça-feira, em São José dos Campos.

 

 

Em dezembro passado, seu Milton, que atuava na Casa de Umbanda Pai José de Palma e Caboco Rompe Mato,  na região central de São José dos Campos, foi homenageado pelo prefeito de Caraguatatuba, Aguilar Júnior, pelos relevantes serviços dedicados a realização da Festa de Iemanjá da cidade, uma das mais tradicionais do litoral paulista.

 

“seu Milton” homenageado pelo prefeito Aguilar Jr. em dezembro passado

 

 

Seu Milton tinha 16 anos de idade quando em 1964 começou a participar das festividades em Caraguatatuba. Sempre foi um dos principais incentivadores e organizadores da festa de Iemanjá. Em uma entrevista feita com ele em 2014, seu Milton contou que na década de 60, cerca de 100 pessoas desciam a serra na carroceria de caminhões para homenagear Iemanjá nas praias da cidade.

“A gente trazia um facão, para ir abrindo caminho na estrada de terra que ligava Paraibuna à Caraguá. É que, quando chovia, as árvores caiam na estrada, impedindo a passagem dos caminhões. A gente descia, cortava os troncos e abria caminho para o caminhão continuar a viagem”, contou ele.

Ele, durante muitos anos, foi um dos principais responsáveis pela festividade e amigo inseparável do seu Francisco D’ Onofrio. O italiano D’Onofrio era dono do único cinema de Caraguatatuba, o Cine Caiçara e, também, mantinha um centro espírita na cidade.

Incentivado por seu Milton, D’Onofrio, aos 90 anos de idade e 60 dedicados ao espiritismo, decidiu construir em 1984 a estátua de Iemanjá, que até hoje existe na praia central da cidade e é um dos monumentos mais visitados pelos turistas que visitam a cidade.

 

 

Segundo ele, a ideia surgiu em 1984, quando os dois foram limpar e restaurar a estátua de Santo Antônio, no alto do morro.  A imagem enfrentava problemas com ações de vândalos. “Falei prá ele que se a gente construísse uma estátua de Iemanjá na praia, muita gente iria visitá-la ao longo do ano, como ocorria com a estátua de Santo Antônio”, lembrou Milton.

Segundo ele, os dois foram no dia seguinte até a prefeitura e entregaram um ofício ao prefeito da época, o então engenheiro Jair Nunes de Souza. O prefeito pediu que eles solicitassem autorização da Capitania dos Portos. “Conseguimos a autorização e o D’Onofrio iniciou a construção da estátua, que foi inaugurada em 1985 e desde então, sedia as festas de Umbanda e de Candomblé de toda a região”, afirmou Milton.

Seu D’Onofrio faleceu alguns anos depois. Na década de 90, os evangélicos tentaram retirar a estátua de Iemanjá da praia do centro. A pressão dos evangélicos foi intensa na Câmara Municipal, através de vereadores ligados à igreja evangélica. Chegaram a sugerir a mudança da estátua da praia do Centro para a praia das Palmeiras. A pressão, no entanto, não deu em nada.

A festa ganhou maior proporção a partir da construção da estátua. O monumento tem cerca de dois metros de altura e fica a 1,80 metros do chão. É visitada todos os dias por moradores, veranistas e turistas. Com o monumento, a festa de Iemanjá passou a atrair mais e mais participantes, principalmente, das cidades do Vale do Paraíba, através do trabalho feito pelo seu Milton.

A festa acabou entrando no calendário oficial da cidade e durante muitos anos, após a morte do seu D’Onofrio, foi coordenada pelo Silvio Fernandes, proprietário do Náutico Clube das Palmeiras, depois da morte de Silvio, por seu Milton Balbino dos Santos, da Liga da Federação de Umbanda e Candomblé; e depois pelo comerciante Pedro Luiz Correa da Silva, o “Pedrinho”, falecido em 2014. Mesmo adoentado e ocupando uma cadeira de rodas, seu Milton fez questão de colaborar e participar da festa de dezembro de 2021.

 

Em alguns anos, a festa chegou a a atrair 15 mil turistas.  Em dezembro passado, devido a pandemia de covid, a festa atraiu mais de 5 mil participantes. Segundo a prefeitura, 44 entidades do Vale e Litoral Norte participaram das homenagens.

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