Conselho recebe pedido de tombamento das edificações da antiga Fazenda dos Ingleses

Uma notícia importante dada ontem, segunda-feira (27), pelo site Ares Urbanos, em reportagem de Clayton Galdino: foi protocolado no Conselho Municipal de Políticas Culturais de Caraguatatuba, neste mês de dezembro, o pedido de tombamento de edificações remanescentes da Fazenda dos Ingleses que pertencem a Fazenda Serramar.

 

Segundo explica Clayton Galdino em sua matéria, o processo de tombamento abrange tanto as edificações existentes na fazenda, bem como, as que ficam as margens do rio Juqueriquerê, onde funcionava o porto de embarque e desembarque de cargas da antiga fazenda.

 

A notícia é de grande importância porque Caraguatatuba foi a cidade da região que menos preservou suas edificações antigas e históricas. O processo pede proteção dos remanescentes arquitetônico e paisagístico da antiga fazenda como patrimônio cultural de Caraguatatuba.

 

Quem trafega pela rodovia Rio-Santos, entre Caraguá e São Sebastião, nas proximidades do Serramar Shopping, quase não percebe a existência de uma antiga fazenda, que entre as décadas de 20 e 60, foi a principal fonte econômica de Caraguatatuba e região. O tombamento é importante justamente pela importância que a fazenda teve para Caraguatatuba e região.

 

Fazenda

 

A Fazenda dos Ingleses começou suas atividades em 1927 com o nome de Fazenda São Sebastião. Caraguá era praticamente uma vila, com cerca de 3 mil habitantes e, pertencia ao distrito de São Sebastião.

 

A fazenda tinha 4.020 alqueires e pertencia a empresa The Lancashire General Investment Company, do grupo Vestey, com sede em Londres. Logo depois, a fazenda foi arrendada para a Companhia Brasileira de Frutas, uma de suas subsidiárias. Alguns anos depois, o empreendimento foi vendido para o Frigorífico Anglo, também de propriedade da Lancashire.

A fazenda tinha uma rede ferroviária interna, que chegou a atingir 120 quilômetros de extensão, construída sob a administração do engenheiro Fuank Robotton, com a ajuda de 80 práticos portugueses contratados, principalmente, em Santos e no Rio de Janeiro.

 

Esta ferrovia era necessária porque no auge da colheita, a composição ferroviária utilizava de 10 a 12 máquinas movidas a óleo e gasolina, além de 200 vagões, incluindo caçambas para o transporte de terra, plataformas para movimentação de madeiras e vagões para o transporte de mercadorias destinadas aos armazéns da Fazenda. Dali, seguia em chatas pelo rio Juqueriquerê e em seguida embarcadas nos navios.

Chatas atracadas no porto que deu o nome ao bairro Porto Novo

 

 

O transporte interno dos operários e suas famílias era feito através de um carrinho de inspeção, que circulava sobre os trilhos. Toda a produção era escoada para o cais particular, situado no Porto Novo, de onde se fazia o transporte até o Canal de São Sebastião. Os ingleses tentaram explorar tudo o que era possível: pimenta, banana, laranja, café, milho e, até mesmo, madeira para construção de estradas de ferro na Europa, durante a guerra. Viviam na fazenda cerca de 4 mil pessoas. Era uma “cidade” dentro de uma “cidade”.

carrinho de inspeção transportava funcionários e parentes

 

Além da banana, uma das produções mais importantes era a laranja “grape fruit”, a preferida da realeza inglesa. Os ingleses tentaram ainda a produção de cachaça, fabricaram duas delas bastante conhecidas, Sítio Velho e Anhimbu, que infelizmente, deixaram de ser produzida, segundo consta, porque o responsável pela produção, um brasileiro, veio a falecer.

 

Os ingleses se davam bem com os brasileiros. Na fazenda tinha cinema, campo de golfe, de futebol, de tênis e prática do polo. O futebol era o esporte preferido aos domingos. O sábado era dia de “açougue”, comerciantes vendiam carne e vários mascates vendiam seus produtos- roupas, utensílios domésticos, diretamente aos moradores brasileiros. Para as mulheres, as missas de domingo e as festas católicas eram os dias mais alegres.

 

Três fatos marcaram muito a vida na fazenda: o assassinato do inglês D . R . Batchelar, um dos administradores por um dos funcionários; a tentativa de invasão de uma área da fazenda por pessoas que não tinham onde morar; e, um motim dos operários, em 1932, na tentativa de obter melhores condições salariais.

 

A fazenda mudou radicalmente a economia de Caraguá e do Litoral Norte. Gente de todo o canto do Vale do Paraíba e da capital vinha para Caraguatatuba em busca de emprego.  A Fazenda dos Ingleses foi o principal fator de desenvolvimento da cidade até a chegada dos turistas.

 

Era considerada uma das três maiores do gênero na América do Sul. Por volta de 1946, no final da II Guerra Mundial, a fazenda retomou a produção de cítricos, voltando ao mercado inglês e sobreviveu mais 20 anos dessa cultura, mas não resistiu ao declínio do mercado europeu de frutas, gerando grande prejuízo a empresa.

 

Com a catástrofe de 1967, metade da fazenda ficou debaixo da lama. A Fazenda dos Ingleses foi aos poucos ficando abandonada. Em 1971 a Pecuária Serramar adquiriu as terras e instalou um projeto pecuário no mesmo local. A atividade foi então paralisada muitos anos depois. Hoje, a família Penido, dono da área, mantém em parte dela o Serramar Shopping e prepara um projeto imobiliário no local.

 

 

 

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