Os ataques de tubarão a banhistas, ocorridos em praias de Ubatuba, nos dias 3 e 14 deste mês, surpreenderam e ganharam destaque nacional. Nos últimos 30 anos nunca foi registrado um ataque de tubarão em praias do Litoral Norte. A última morte de banhista por ataque de um mamífero marinho, no caso um golfinho, ocorreu em 1994, na praia Martim de Sá, em Caraguatatuba.
O golfinho, conhecido como nariz de girafa, da espécie Tursiops truncatus, tinha 2,60 metros de comprimento, pesava 200 quilos, macho e de cor cinza. Foi logo apelidado de “Tião”, segundo consta, por ter sido visto inicialmente em praias de São Sebastião.
O animal passou a frequentar as praias de Caraguatatuba, como a Martim de Sá, Prainha e Camaroeiro, e virou uma atração da cidade. No dia 25 de outubro de 1994, o golfinho passou a chamar a atenção das autoridades locais e a ganhar destaque na mídia, após atacar dois banhistas na Praia Martin de Sá.
Uma das vítimas foi um fazendeiro de Paraibuna, Walter Pereira da Silva, que sofreu fratura em uma das costelas. Segundo relato do bombeiros, na época, o ataque ocorreu porque um grupo de banhistas tentava cercar o golfinho. O animal se irritou e atacou dois banhistas.
Em poucos dias, o golfinho Tião, acabou atacando cerca de 20 banhistas. A prefeitura chegou a fazer campanhas orientando os banhistas para que evitasse se aproximar do animal, mas alguns deles continuaram incomodando o animal. Alguns banhistas atiravam latinhas de cerveja em direção ao golfinho, outros tentavam segurar o animal e até montar nele.
Pesquisadores do Ibama e do Cebimar comentaram, na época, que o golfinho era dócil e só agredia quando provocado ou atacado. Acontece que os banhistas, na maioria das vezes, alcoolizados, queriam montar nele ou colocar até mesmo garrafa de cerveja em sua boca. Tião utilizava sua cauda para se defender das agressões.
No dia 8 de dezembro, o golfinho faria uma vítima fatal: o banhista João Paulo Moreira, de 30 anos, natural de Espírito Santo do Pinhal. Segundo consta, após ser perseguido na água pelo banhista, o animal revidou, acertando com sua cauda a cabeça e o tórax do banhista. João Paulo foi socorrido, encaminhado para a Santa Casa da cidade, mas sofreu hemorragia interna e acabou falecendo.
Outro banhista, Wilson Regis Pedroso, 41, teve uma das costelas quebradas pela cauda do golfinho. Pedroso ficou internado na Santa Casa, foi medicado e liberado. O acidente ocorreu fora da área de boias, colocadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para demarcar e isolar o animal dos banhistas.
O diretor do Ibama, em Caraguatatuba, José Luiz Roma, afirmou na época, que o golfinho atacou para se defender. Segundo ele, um dos banhistas teria tentado montar no animal e por isso foi agredido. Ele afirmou que a partir daquele dia iria aplicar a lei federal 7.643. A lei determinava que o simples molestamento ao animal poderia dar de 2 a 5 anos de cadeia.
O caso chamou ainda mais a atenção das autoridades e da mídia nacional e internacional. O golfinho ganhou destaque até na revista Time(EUA). A Prefeitura e o bombeiros fizeram demarcações com boias na Prainha e Martim de Sá para segurança dos banhistas e fez estudos para remover o golfinho das praias da cidade, primeiro para evitar novas vítimas e, principalmente, para atender os comerciantes locais, que alegavam que o animal estaria afugentando turistas das praias da cidade e prejudicando o comércio.
Alguns dias depois, o golfinho simplesmente desapareceu e não foi mais visto na região. Surgiram muitos boatos sobre o sumiço de “Tião”. Comentou-se que o golfinho teria sido morto acidentalmente após tocar a hélice de uma embarcação e, até mesmo, que comerciantes teriam mandado “dar um fim no animal”. Tião nunca mais foi visto na região.
O animal era dócil, desde que, lhe tratassem bem. Muitos moradores chegaram a nadar e a acariciar o animal na Prainha, Martim e Camaroeiro. Na foto, Ana Dias, arquiteta que hoje reside na Suíça, quando nadava com “Tião”. Quem o tratava com carinho, recebia carinho em troca por parte do animal.