Pesquisador confirma segundo ataque de tubarão em Ubatuba. Veja o laudo

Pesquisadores confirmaram ontem, quarta(17), o segundo ataque de tubarão registrado em praias de Ubatuba neste mês de novembro. O pesquisador Otto Bismarck, da Unesp, o maior especialista em tubarões no país, confirmou que foi mesmo um tubarão que atacou a turista, de 79 anos, no domingo(14), na Praia Grande, em Ubatuba. A turista teria sido mordida por um tubarão tigre ou cabeça chata, duas espécies que habitam a costa do Litoral Norte.

 

A constatação foi feita a partir da confirmação da veracidade das fotos dos ferimentos na panturrilha da turista que lhe foram encaminhadas para análise, do encaminhamento de novos imagens dos ferimentos e de contatos com a vítima do e seus familiares. O ataque foi o segundo ocorrido em praias da cidade num período de 15 dias, no dia 3, na praia do Lamberto, um turista francês foi mordido por um tubarão.

 

Ataque

 

O ataque de tubarão ocorreu no domingo(14|), na Praia Grande, quando a turista, de 79 anos, teria entrado no mar para fazer xixi, acompanhado de um neto. Ela estava com a água pela cintura, quando sentiu uma fisgada, nas palavras dela “uma câimbra” e imediatamente deixou a água.

 

Quando chegou na areia percebeu que sua panturrilha estava feria e com muito sangue. A turista foi socorrida por guarda-vidas e encaminhada até a Santa Casa da cidade. No pronto socorro, a paciente levou pontos na panturrilha, recebeu a vacina antitetânica e foi liberada logo em seguida.

 

A suspeita de que a turista tivesse sido atacada por um tubarão foi comunicada ao Instituto Argonauta, que no dia seguinte ao ataque teria recebido duas fotos dos ferimentos provocados na panturrilha da turista.

 

O presidente do instituto, Hugo Gallo, encaminhou as fotos para dois pesquisadores, ao professor-doutor Otto Bismarck, da Unesp e, também,  à Venâncio Guedes de Azevedo, pesquisador científico Venâncio Guedes de Azevedo, diretor técnico do Núcleo Regional de Pesquisa do Litoral Norte (NRPLN) do Instituto de Pesca, em Ubatuba (SP).

 

Gallo e os dois pesquisadores após analisarem as fotos concluíram que os ferimentos na perna da turista teriam sido provocados por uma “abocanhada” de tubarão. A preocupação  dos especialistas era saber se as fotos que lhes foram encaminhadas eram verdadeiras ou “fake”.

 

Após a confirmação de que as fotos eram autênticas e do envio de novas imagens dos ferimentos na perna da turista pela família, os pesquisadores garantiram que a turista de Minas Gerais foi mordida por um tubarão. A confirmação ocorreu ontem, quarta-feira(17).

 

Foi o segundo ataque de tubarão ocorrido em praias da cidade no mês de novembro. na cidade. No último dia 3, um turista francês foi mordido por um tubarão quando nadava na Praia do Lamberto, na região sul de Ubatuba. Foi oficialmente o primeiro ataque de tubarão ocorrido na região nos últimos 30 anos.

 

Segundo relato de familiares, o turista francês nadava com a água pela cintura, próximo a um cardume de peixes. Como a água estava turva, possivelmente, o tubarão confundiu a perna do turista com o cardume de peixes. O animal ao atingir a perna do turista teria percebido que não se tratava de peixe e largou. O turista foi encaminhado a um pronto-socorro onde foi medicado e liberado.

Laudo

O laudo foi elaborado pelo professor-doutor Otto Bismarck  com base em análise técnica sumariada sobre lesão sofrida na panturrilha da senhora M. R. L, 79 anos, enquanto se banhava no mar da Praia Grande, município de Ubatuba, no dia 14 de novembro de 2021. nessa breve introdução e esclarecimento, segue abaixo os argumentos apresentados para responder a pergunta principal, como se segue:

1) A lesão tem a forma de “C” invertido, ou de ferradura, ou de semicírculo. A parte direita do arco é levemente mais achatada que o semicírculo em seu todo. Esse conjunto aponta para a ação mecânica do maxilar superior da mandíbula de um animal com boca proporcionalmente mais larga do que longa (mesmo considerando a razoável possibilidade de que a impressão da mandíbula na perna seja incompleta).

2) A lesão tem extensão média (minimamente 25 cm em sua maior largura) e relativamente pouco profunda, mesmo considerando o agente causador envolvido, cujo potencial traumatogênico é alto.

3) O contorno da lesão é irregular e em parte significativa dela (à direita e mais abaixo, principalmente) se observa claramente a ação de pelo menos 5 agentes perfurantes que correspondem à dentes largos e com borda serrilhada, em
pequeno número, grande tamanho e com espaçamento importante entre suas extremidades, espaçamento este maior do que a altura da coroa dos dentes. Esse padrão não fica evidente em outros trechos da borda da lesão, no entanto isso se deve a numerosos fatores que atuam no momento do impacto do agente causador.

4) A lesão resultou na exposição da musculatura superficial da panturrilha e micro lesões em alguns dos vasos superficiais da mesma.

5) A lesão é resultante de uma ação mecânica ativa de agente externo animado (animal marinho em movimento) e não de ação passiva de agente externo inanimado (choque involuntário com rocha, vidro, pedaço de madeira, prancha
de surfe, metal, demais artefatos humanos, resíduos sólidos ou similares).

6) A ação perfurante e cortante não foi acompanhada de grande pressão. Isso é indicado pelo fato de que a impressão da mandíbula é claramente incompleta e o tecido atingido é superficial.

7) Mesmo considerando o fato conhecido que a pele de pessoas idosas perde em espessura por conta da diminuição de fibras elásticas e colágeno (o que as torna mais sensíveis a traumas externos), não foi observado vestígios de esmagamento do tegumento ou musculatura, esperado em casos de pisadas acidentais, por exemplo, ou impacto com alguns dos objetos inanimados acima mencionados. O relativo baixo número de hematomas também são indicativos quanto a esse aspecto.

8) O animal abordou pelo lado esquerdo da pessoa, vindo no sentido fundo-raso. Essa conclusão tem como base a própria lesão, a profundidade na qual se encontrava a senhora no momento do contato e a estimativa de tamanho mínimo para o animal, aqui considerada.

9) A cinemática que resultou o trauma indica o primeiro contato com a parte superior da mandíbula e o movimento brusco de puxar no sentido oposto, causando o aspecto geral da lesão no qual se observa todo tegumento erguido no
sentido medial-distal (de dentro para fora) do membro atingido. Além disso, tanto os pontos de contato de dentes evidenciados em trecho do contorno da lesão, como as micro-lesões nos vasos sanguíneos da musculatura superficial da
panturilha, exibem o mesmo sentido e direção, reforçando a ação mecânica ativa unidirecional.

10) Com base nesse conjunto de observações preliminares acima expostas, o agente causador do trauma foi uma espécie de tubarão de médio a grande porte, com cabeça arredondada, focinho curto (morfologia acompanhada pelo contorno do maxilar superior), de boca proporcionalmente larga em relação ao comprimento, dentes largos, serrilhados, moderadamente recurvados e com espaçamento interdental (considerado aqui entre as pontas dos dentes) igual ou maior do que a altura da coroa dos dentes (sobretudo na região frontal e lateral da mandíbula). Essas características remetem exclusivamente a duas espécies: 1) tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) e cabeça-chata (Carcharhinus leucas), habitantes da fauna regional de tubarões da costa de São Paulo e cuja presença na região não deve ser considerada anormal. Ambas são formidáveis predadores costeiros de grande tamanho quando adultos, que se alimentam basicamente de peixes de médio porte, e que utilizam a região costeira para cumprir suas funções e processos naturais, como alimentação e busca de áreas adequadas para reprodução Concluo agradecendo o suporte de um contingente considerável de pessoas que prestaram valiosa contribuição por meio de depoimentos detalhados (salva-vidas, agentes do resgate e transporte, corpo médico e banhistas). Também ao biólogo Tiago Leite (Instituto Profauna) por colaborar nas primeiras abordagens e ao Dr.Hugo Gallo Neto (Presidente do Instituto Argonauta), pela inestimável colaboração e intermediação entre o investigador, agentes e família, que foram determinantes para o avanço e conclusão desta primeira análise.. Finalmente, deve-se destacar a enorme generosidade e compreensão dos familiares durante o processo, a quem agradeço profundamente. E o mais, importante, o desejo de que a senhora que protagonizou este episódio se encontre bem, saudável e prontamente se recupere de forma plena. Sendo o que se apresentava para o momento, Fico ao inteiro dispor para esclarecimentos adicionais que forem julgados necessários.
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Otto Bismarck Fazzano Gadig
Laboratório de Pesquisa de Elasmobrânquios/UNESP

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